sábado, 5 de março de 2022

Sobre paciência no viver

Algumas percepções sobre a paciência no viver:

Para além de entender que somos processos, precisamos entender o porquê deles;

Quanto maior nossa decisão e nosso objetivo, maior é a necessidade de que estejamos preparados para exercer aquilo;

O maior aprendizado é a vivência - não à toa as pessoas anciãs são tidas como as mais sábias;


Aceitar que há complexidade na vida não é uma visão pessimista - a não ser que te desmotive a jornada por isso - é o que ela é. Quanto antes encarar a vida como algo complexo, mais fácil fica de encarar os reais problemas;


Perdemos muito tempo tentando nos convencer de que algo não é complexo e gastamos energia para mudar isso. Quando se aceita esta condição de complexidade inerente, os espaçosa abrem  para enfrentar o que surge, um a um. A porta destravou. A é A. 


“Quem elegeu a busca não pode pode recusar a travessia”, diz a frase de Guimaraes Rosa.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Cada vez mais seletas(os)?

Virou moda esbravejar que só se pode contar com poucas pessoas. Falar - com um certo orgulho - que os amigos de verdade são contados nos dedos de uma das mãos.

Eu concordo que por trás dessa sentença existem inúmeras razões. A mais clássica: na balada e na bonança, todos com você; Na dor e nos momentos de angústia, pouquíssimos ou nenhum. E daí que na dor é que a gente começa a avaliar de forma mais intensa as importâncias da nossa vida e nossas certezas - a dor é lição.

Mas olha, eu confesso que tenho achado um porre essa mania cool de ser seleto. Gente seleta demais pra mim virou sinônimo de gente chata: traduz um pouco dessa coisa de adulto com preguiça de socializar.

Até entendo, sabe... Quantas vezes já bravejei: poucos e bons! Ser adulto é chato, dá trabalho mesmo. Na nossa realidade cotidiana de equilibrar trabalho, casa, contas, famílias e todo tipo de obrigação, não sobra muito pra gente compartilhar. Zero energia pra lidar com o outro, preguiça de fazer pelo outro. Então a gente simplifica, claro, começando POR QUEM vamos lutar.

Eternamente responsável por quem se cativa é o caceta, ô pequeno príncipe - assim pensamos.

É!

Mas um dia desses ouvi algo que ficou martelando aqui dentro, sobre desconfiar de quem não tem tantos amigos assim, ainda mais de longa data.

Isso com certeza mexeu em pontos delicados.

Em mim, em especial, caiu no ponto de análise em como a gente vai se desligando de muita gente no caminho pelas razões erradas - e não, esse texto não é sobre dar valor àqueles que maldosamente nos machucaram. 

Acho que a gente esquece de nutrir os vínculos. A gente esquece - ou desiste - de cultivar. E nisso a gente se abandona um pouco, né?! Vai perdendo sempre um pouco nessa troca constante de grupo - sempre mais próximos daqueles cuja conexão e a coerência é maior. Conviver em sintonia traz calma e paz, mas aprender a lidar com a discordância e pontos controvertidos nos aproxima mais da realidade da terra. 

E daí que hoje eu tô dando um valor danado pra gente que traz consigo e consegue manter sempre um pouco do que já viveu, em especial os amigos, inclusive em grandes números. E eu espero trilhar sempre valorizando o poder que é ter muitos aqui. A clássica frase: Pessoas são como rios, crescem quando se encontram.

Aos meus velhos e bons amigos: obrigada por carregarem em vocês essa lembrança viva que tenho de mim mesma. Olhar pra vocês é a celebração da minha própria conquista enquanto humana nesta terra.

domingo, 24 de maio de 2020

Geração paralisada?



Estamos no primeiro semestre do ano de 2020 e fomos surpreendidos com uma pandemia que modificou o mundo. Ninguém que sair vivo disso conseguirá ouvir falar de COVID-19 sem ter, no mínimo, um sentimento de instabilidade. Morte(s), sofrimento e descaso, esse seja por parte de autoridades públicas ou por cada cidadão que descumpre as orientações dos especialistas. Além disso, no Brasil, vivemos tempos sombrios com o aparelhamento militar do Estado e, com isso, o caminho para um golpe pelo atual Presidente, que só desgoverna.

“São tempos sombrios, não há como negar”, já diria Rufo Scrimgeour, o corajoso ministro da magia que conhecemos na saga Harry Potter.
.....

É, são tempos sombrios, especialmente nesse contexto, cujos reflexos de uma sociedade doente foram potencializados. A doença? A paralisação.

Não sei como a história contará que a sociedade que mais teve acesso à informação foi a que mais se perdeu, mas também não faço ideia de como ela pode se encontrar.

Toda vez que surge alguma dúvida e, após procurá-la no Google, obtenho a resposta em menos de 5 segundos, paro perplexa.  Consigo ter acesso a informações que, em tempos anteriores, pessoas pagavam seus milhares de dinheiros em consultoria especializada para obtê-las.

Apesar disso, por muitas vezes, não consigo evoluir muito a partir da pesquisa, guardo a informação em algum lugar do meu hipocampo e parto para próxima pesquisa. Nessa brincadeira de “procura-acha”, nada se solidifica. Após, com o excesso de informação, apenas paraliso. Estou com muito, mas também estou com nada.

Esse cenário impulsiona, ainda, o descrédito da ciência. Não há mais preocupação com a fonte da notícia e você consegue, a partir de apenas uma chamada de matéria – sequer a matéria inteira –, escrever fervorosamente 20 linhas sobre um suposto medicamento de cura. “Afinal, por que a notícia sem fonte que o tio mandou no WhatsApp não estaria certa e a ciência que estaria?” é o pensamento contumaz ultimamente, acredite.

Com a sensação de que temos tudo sob controle, bem aqui nas mãos, pensamos por um segundo ter a resposta para os problemas, mas a sensação logo cai por terra quando sequer sabemos que verdades estamos procurando, ou se há alguma verdade.

Pronto. A paralisação voltou. Lembro de tudo lá fora, observo minha confusão aqui dentro.

Estamos todos assim?

Como nós, imersos nessa bacia de emoções e de (des)informações, combateremos o que nos aflige?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A eterna segunda visita

Sempre depois de um momento de muita felicidade, demasiada satisfação, de pensar "tudo está dando tão certo!", vem aquele vento - chamaria assim - que traz tristeza, inquietação e dor, o qual acarreta em desgastes, principalmente mentais. É aí,então, que você vê a necessidade de colocar em prática aquele exercício de análise pessoal e indaga: "se antes estava tão bem, por que agora tudo simplesmente virou?".
Começa o momento no qual você, digamos, passa a fazer uma introspecção, que, de acordo com o Dicionário Online de Português, "é uma análise íntima e reflexiva que uma pessoa faz sobre si mesma; exame profundo acerca de suas próprias experiências ou daquilo que ocorre de modo íntimo".
Pode ter sido você quem fez algo para as coisas mudarem de maneira rápida ou fizeram para você, não importa, a questão é: não está mais como antes. As coisas mudam, óbvio, mal nascemos e essa frase já vem quase como um "bem-vindo ao mundo". Só que eu estou falando aqui de troca, de dois momentos que nunca mudam, apenas invertem as posições: a tristeza e a felicidade. Bem mais especificamente da reflexão pessoal que vem junto com a tristeza. Sim, junto com a tristeza, pois, em algumas análises sobre estado de espírito feitas por mim após esses "ventos", cheguei à conclusão que em estado de felicidade quase ninguém consegue (ou vê necessidade) de realizar análises pessoais. Afinal, "pra quê, né?".

É como pode ser interpretado na letra de uma música do Nando Reis, chamada Mantra.
Ao escrever:

"Quando estiver com tudo
Lã, cetim, veludo
Espada e escudo
Sua consciência
Adormecerá!"

Nando descreve perfeitamente o que estou colocando em questão, quando estamos com tudo, adormecemos e pouco conhecemos a nós.
Esse anterior é o segundo verso da canção, e este é o primeiro:

"Quando não tiver mais nada
Nem chão, nem escada
Escudo ou espada
O seu coração
Acordará!... "

ACORDAR... Feliz ou infelizmente só conhecemos bem a nós mesmos - só acordamos para nós - na tristeza, quando perdemos coisas; é preciso passar por ela para descobrirmos do que gostamos, queremos, faremos.

Ontem mesmo uma amiga perguntou: "tu és feliz?", a minha resposta foi mais ou menos "eu tenho tristeza e alegria, mas tento fazer os momentos serem mais de alegria". Não deixa de ser [a minha] verdade, não sei de você que está lendo. Há quem acredite que somos inteiramente tristes e temos alguns momentos felizes, já eu aposto nessa, como falei anteriormente, troca de posições.
Mesmo analisando mais a mim na tristeza, quem abre mão de ser feliz? Ninguém. Pelo menos ninguém que eu conheça.
Escrevo estando em um desses momentos de reflexão. Você pode estar em um desses também. E, se está, pode ser que depois dessa chamada por mim de "eterna segunda visita" que estamos fazendo a nós mesmos, e que acontece toda vez que um daqueles ventos que falei no começo do texto passa, sairemos com opiniões diferentes ou melhoradas daquelas que tínhamos quando entramos nesse momento.
O mais importante, acredito eu, nessas voltas para a eterna segunda visita é a aprendizagem pessoal que ajudará no crescimento individual.
Forçar uma tristeza para poder descobrir a si mesmo não é bem uma saída, mas já que estamos sujeitos à tristeza, o que resta é saber aproveitar esse momento ruim para analisar o que fazer e não fazer da próxima vez.
Ouvir suas músicas preferidas, distrair-se com filmes e com aquelas coisas que fazem você ir "levando esse momento" é importante também.
Concluo que o importante é começar a fazer o possível para retornar à inevitável eterna segunda visita disposto a entender mais sobre você, aprender a lidar com você mesmo.
Afinal, como diria o filósofo e escritor francês Blaise Pascal: "É indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isso não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos para regularmos a vida, e nada há de mais justo".

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Culturando e Hippando

Sou fascinada por culturas, pela maneira como os seres humanos apresentam, entre si, características, filosofias e ideologias distintas, influenciadas por uma história individual de um grupo ou um povo. E falar em culturas, diferentes modos de vida, penso nas muitas pessoas que já passaram e passam por onde moro, Santarém (no Pará), e trazem um pouco da sua cultura pra cá. Os motivos da vinda, em sua grande maioria, é o fato de a Vila de Alter do Chão estar situada a alguns quilômetros daqui. Praia de areia branca, banhada pelo rio de água doce Tapajós, e possuidora de aspectos geológicos deslumbrantes, confesso. Toda uma propaganda para o lugar rs, mas é bonito mesmo! E são viajantes e mochileiros de todas as partes do mundo, dentre eles, aquele grupo amante da natureza e da vida nada convencional: os hippies . Eles são importantes como exemplo para o que venho escrever hoje.
Estou com um grupo de amigos da Universidade em um projeto de pesquisa que tem como foco justamente o perfil da comunidade hippie encontrada na Vila de Alter do Chão. O motivo da pesquisa foi o fato de a presença deles ser constante, principalmente nos pontos turísticos (como a Orla da cidade e a já mencionada Vila de Alter), e pela ausência de um estudo ou análise antropológica acerca desse grupo. A pesquisa ainda não está completa, mas em uma conversa informal com um casal de hippies (não poderei citar nomes nem mostrar fotos, pois ainda não temos termos de consentimento) já observei tanta coisa, que o meu encantamento por esse estilo de vida ficou ainda maior.
É importante destacar que o movimento Hippie surgiu nos Estados Unidos, e foi espalhando-se pelo mundo, até chegar no Brasil. E falar em hippies é lembrar dos anos de 1960, do Woodstock, que ocorreu em agosto de 1969, das músicas, preferencialmente o rock psicodélico, como Janis Joplin, Jimi Hendrix, além de Rolling Stones e Beatles. Falando em música, uma característica marcante entre os hippies até hoje é a de sentar para tocar e cantar músicas, compartilhar sua ideologia e experiências nas viagens pelo mundo. Na conversa com o casal, inclusive, citaram que sempre fazem isso.
Além da música, da filosofia, tem o artesanato; muitas pessoas os procuram para comprar pulseiras, colares, bolsas, brincos, entre outros, feitos de materiais da natureza (sementes, por exemplo) ou até mesmo recicláveis. Durante a conversa, ouvimos histórias de passagens por vários lugares. (Ah, atenciosidade, claro! Vale ressaltar que são bastante atenciosos). Duas horas de uma conversa muito boa. Saí completamente maravilhada! Porém, infelizmente, a imagem daqueles que realmente vivem a filosofia hippie tem sido distorcida, estereotipada e generalizada com base no comportamento daqueles que apenas se denominam hippies, que não seguem as ideologias, que têm, na verdade, comportamento de marginais e só usam a denominação "hippie" para fazer uso da liberdade. Infelizmente acontece. Aqui em Santarém também, quantas vezes ouvimos comentários ruins sobre eles? Quantas pessoas os olham com um certo preconceito? Já vi bastante. Afinal, o Brasil em si já é um país que carrega uma boa quantidade de cidadãos preconceituosos. A verdade é que em todo lugar tem gente boa e tem gente ruim, até no meio deles, só não pode generalizar.
O movimento hippie é muito bonito, sugiro mesmo às pessoas que queiram descobrir, porque, deveras, você se encanta. Defendo sempre que qualquer cultura ou modo de vida diferente do nosso é válido de ser conhecido, todos devem fazer sempre um exercício antropológico de olhar a cultura do outro, de não julgar, observar e, se sentir vontade, maravilhar-se - como fiz. Vale a pena.
Retornarei à Vila de Alter do Chão ainda nesta semana, e terei contato com mais hippies, mais histórias e, quem sabe, farei um outro texto sobre o que descobri por lá nessa nova visita. Só adiantando que tenho quase certeza que voltarei mais encantada. É isso. Ninguém dá conselho "de graça", a não ser pai e mãe, mas hoje eu deixo um: conheçam outras culturas, não só pelos livros ou pela internet, conversem. Conhecimento é uma via de duas mãos, ao mesmo tempo que você aprende uma cultura, você ensina a sua também.
Ah, e como diria um dos lemas dos colegas hippies: "paz e amor, galera".

"café rastilho?"


Ao falar o nome do blog para as pessoas, impossível não ouvir um "me explica o que significa, por favor", pois bem, então, explicar o significado será primordial, principalmente, para aqueles que não têm contato comigo e não me encontrarão por aí para perguntar, para aqueles que simplesmente acharão o blog por acaso.
O nome tem a ver comigo, com um dos fatores que me dá impulso para escrever. Sou viciada em café e peguei certa mania de precisar de café para uma tarefa sair bem-sucedida -meu psicológico já se acostumou com isso, o organismo também-, e a tarefa de escrever não fica atrás. Daí com alguns textos prontos e com a vontade de por em prática os planos de ter um possível blog, só faltava o nome e, consequentemente, eu estava tomando café e me veio a ideia de levar o nome para esse rumo (café, impulso). Lembrei de rastilho, e do seu significado figurado; aquilo que serve de motivo para o desencadeamento de alguma coisa. Achei a junção de ambos interessante, tanto pelo nome como pelo fato de que não trataria de algo específico aqui, mas sim de ideias aleatórias que vêm à cabeça, além de algumas observações do cotidiano. E assim surgiu. Café rastilho para vocês. Uma xícara, três ideias.